domingo, 17 de janeiro de 2016

GRANDES POLOS DE CAPOEIRA NO BRASIL

Jogar Capoëra – Danse de la guerre”Painting from Johann Moritz Rugendas, 1835
Bom dia!
Continuando com o Estudo do Mestrando Hélio Dendê (Hélio S. Santos), falando de três dos grandes centros da capoeira no Brasil.
Três foram os grandes centros de capoeiragem no Brasil, a Bahia, o Rio de Janeiro e Pernambuco. Em cada um desses lugares se distinguiu o jogo da capoeira por certas peculiaridades. (Brito 2007 , pg. 11-13).                                                                                                        No Rio de Janeiro - A capoeira como luta aparece nas fontes literárias de forma maciça, a partir da segunda década do Séc. XIX, justamente depois da transferência da corte portuguesa para o Rio de Janeiro. O governo fazia jogo duplo, ao mesmo tempo que mandava expulsar os capoeiristas, utilizava-os em suas forças militares.         
 Por ocasião da Guerra do Paraguai ( 1828 - 1870), o governo tentou acabar com os negros capoeiristas, enviando-os para a frente de batalha, mas estes de lá se fizeram heróis. (Silva, 2002, pag. 32). 
 A palavra capoeira era usada tanto para designar a prática, quanto para um grupo de pessoas. A base da capoeira do Rio de Janeiro eram as maltas. A sua prática consistia em exercícios de destreza física nos largos e nas praças da cidade. A sua maior visibilidade acontecia, porém, durante as festas públicas, ou seja, as procissões, as paradas militares e o carnaval. “Os eventos serviam de pretextos para os confrontos das maltas, que promoviam “distúrbios” ou” correrias”, ferindo até terceiros. 
A prática da capoeiragem, nesta época difere fundamentalmente daquilo que hoje é conhecido como capoeira. Ou seja, não havia Roda, não havia música, nem "jogo" entre dois praticantes. 
Um outro aspecto surpreendente é a rápida mudança da origem étnica dos capoeiras. A capoeira, após 1850, passa a recrutar adeptos não somente na população mestiça pobre, mas também entre os brancos e até imigrantes europeus, principalmente os portugueses.      
  A origem social dos capoeiras também precisa ser diferenciada. Na República Velha, a maioria dos capoeiras, não eram malandros e vadios e, sim, trabalhadores. (Brito 2007).
         Na Bahia, a falta de fonte escrita sobre a capoeiragem, no Séc. XIX, faz com que os depoimentos dos Velhos Mestres tenham grande significação.
     A capoeira Baiana antiga se opõe “a capoeira de hoje”, ritmada, estilizada, verdadeira capoeira de salão. 
        Na Bahia antiga, a capoeira era ensinada pelos Tios, temos como exemplo: Tio Alípio (Mestre de Besouro) e Tio Benedito ( Mestre de Pastinha). A capoeira era passada de parente para parente ou a amigos, pessoas que estes tios adotavam como seus discípulos. A figura do Mestre de capoeira data do Séc. XX.       
       Até o início dos anos trinta, o jogo da capoeira aparecia integrado às práticas cotidianas das classes populares de maneira semelhante à "pelada", o jogo informal de futebol nos finais de semana. Apesar de existirem os "cobras", não havia uma rigorosa exigência do domínio da técnica do jogo, apenas o conhecimento do ritual de roda.    
    No entanto, nem sempre a vadiação baiana assumia o caráter pacífico e predominantemente lúdico. Havia violência entre grupos rivais, com terceiros e enfrentamentos com a polícia. Mas a repressão policial foi menor que no Rio.  
       "As rodas de capoeira do passado integravam-se a uma concepção de dever permanente, uma visão de mundo circular e integralizadora em que os rituais são elementos de uma relação do homem com o cosmo incompleta e dinâmica por natureza".(Brito 2007).
      Em Pernambuco, a capoeira irrompeu nas ruas do Recife na forma de rivalidades entre craques admiradores de duas bandas de música. Os capoeiristas eram os defensores das bandas, eles iam na frente das bandas, gingando, soltando golpes, abrindo caminho no meio da multidão. A capoeira no Recife ajudou dar origem aos passos de frevo. 
     Uma figura lendária de Pernambuco foi Nascimento Grande, assim como Besouro na Bahia e Manduca da Praia no Rio de Janeiro. Homens que impunham respeito pela valentia, coragem e bravura, grandes líderes dos oprimidos. (Brito 2007).A capoeira jogada, atualmente no Rio e Recife é uma herança da capoeira da Bahia.       
   A história da capoeira de 1930 até os dias de hoje tem como principais protagonistas a Capoeira Angola, e a Capoeira Regional. (Brito 2007). A capoeira atualmente, encontra-se em mais de cinqüenta países e é reconhecida pelo COB (Comitê Olímpico Brasileiro), como esporte olímpico.(Brito 1998).  
        A capoeira faz parte de vários projetos sociais, ajudando a tirar os menores das ruas, bem como em projetos que trabalham com portadores de deficiência física, auditiva e até visuais, pessoas com Síndrome de Dawn e outros.(Brito 1998). 
   A capoeira faz parte das atividades físicas de várias escolas públicas e particulares. Ela, também, faz parte dos currículos de várias Faculdades de Educação Física de todo o país. (Brito 1998).   
     A capoeira é considerada por muitos como a ginástica brasileira. Existindo, também, a hidrocapoeira, o aerocapoeira (aeróbica utilizando elementos da capoeira), a somacapoeira e outras.    
    A capoeira é ensinada em clubes, academias, associações de bairros, escolas, universidades, creches, e nos mais diversificados locais. 
    No Brasil, ela se popularizou, conquistando, principalmente, as crianças e adolescentes. Um dos motivos, é porque o esporte número um do Brasil, o Futebol, esta cada vez mais caro e elitizado, enquanto que a viabilização de sua prática, é muito fácil, seu custo é baixo, e não requer um local com muitos aparatos e nem uniformes e materiais sofisticados. 
       A capoeira nunca foi tão divulgada como atualmente. Constantemente a vemos nos meios de comunicação. Já existem várias revistas, jornais e lojas especializadas, filmes sobre o assunto, inúmeros CDs e livros. A grife capoeira tem confeccionado materiais de todo tipo e para todo gosto. (Brito 1998).    
         Sobre a sua história, pensamos que ela deva passar por uma reavaliação crítica das fontes conhecidas, pois muitas destas, cometem erros grosseiros. Ë necessário, portanto, distinguir os tipos de fontes e cada qual requerendo tratamento adequado.
        Muitos mitos e discursos foram criados ao longo de sua história e serviram para confundir e reforçar posicionamentos e idéias que nem sempre comungavam com a verdade clara e transparente dos fatos. Em contraponto, os recentes trabalhos de estudiosos do assunto, como as pesquisas acadêmicas tem trazido boas novas descobertas. Talvez não chegaremos a completar a sua real história, mas só o fato de podermos nos aproximar, já é o suficiente para tentarmos. (Vieira e Assunção, 1999). (Brito, 1998, pg. 28).

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